Publicada em 20 de agosto de 2025
Aquela blusinha de R$ 30, o fone de ouvido baratinho, a capinha de celular que custa menos que um cafezinho. As compras em sites como Shein, Shopee e AliExpress viraram uma febre no Brasil, trazendo uma sensação de poder de compra que parecia perdida. Mas, por trás dessa festa de preços baixos, uma guerra silenciosa está sendo travada nos bastidores da economia, e a sua comprinha pode estar no centro de uma decisão que vai impactar o futuro do varejo nacional.
A verdade é que a isenção de impostos para essas encomendas de até 50 dólares, que tanto agrada o consumidor, está sendo apontada como o tiro de misericórdia para gigantes brasileiras como C&A, Renner e Riachuelo, além de milhares de pequenos lojistas.
O debate é feroz e coloca em lados opostos o seu bolso e a sobrevivência de milhões de empregos no país.
Enquanto o governo tenta equilibrar os pratos, o Congresso e a indústria nacional pressionam pelo fim do que chamam de “concorrência desleal”.
O argumento é simples e direto: por que a sua blusinha importada não paga o mesmo imposto que a fabricada no Brasil? A resposta para essa pergunta pode azedar a sua próxima compra e está diretamente ligada à maior transformação econômica do país: a reforma tributária.
A ‘pílula da injustiça’ na nova reforma
Paradoxalmente, enquanto o Brasil discute uma reforma tributária para simplificar e tornar o sistema mais justo para todos, a isenção para as “blusinhas” importadas funciona como uma “pílula da injustiça” no meio desse processo.
O pilar central da reforma é a isonomia, ou seja, a ideia de que todos os produtos e serviços, nacionais ou importados, devem pagar o mesmo imposto para que a competição seja leal.
Manter a isenção para as compras de até 50 dólares vai na contramão de tudo o que a reforma prega. Na prática, a regra atual cria um privilégio para o produto estrangeiro.
Enquanto uma varejista brasileira paga uma carga tributária que pode chegar a 90% sobre seus produtos (somando todos os impostos da cadeia), o gigante asiático envia o mesmo item para a sua casa sem pagar praticamente nada, além de uma alíquota de ICMS.
O canibalismo no varejo e o risco de desemprego
O resultado dessa diferença brutal de impostos é o que os economistas e donos de lojas chamam de “canibalismo”.
As empresas brasileiras, que geram empregos aqui, pagam salários aqui e recolhem impostos aqui, não conseguem competir com os preços de quem produz do outro lado do mundo, em um regime com regras trabalhistas e ambientais completamente diferentes e com isenção fiscal.
O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já apresentaram estudos alarmantes ao governo. Os dados mostram que a manutenção da isenção pode levar ao fechamento de milhares de lojas e à perda de milhões de empregos nos próximos anos.
A conta, segundo eles, não fecha. É uma competição com cartas marcadas, onde o produto nacional já entra em campo perdendo de goleada.
A encruzilhada do governo: popularidade vs. empregos
O governo se encontra em uma sinuca de bico. De um lado, taxar as comprinhas é uma medida extremamente impopular e que afeta diretamente o consumidor de baixa renda, que encontrou nesses sites uma forma de acesso a produtos que antes não podia comprar. De outro, não fazer nada é assistir de camarote ao desmonte da indústria e do varejo nacional.
Os lados dessa guerra:
A decisão final sobre o fim ou não da “taxa das blusinhas” ainda está em aberto, mas o debate está mais quente do que nunca. O que está em jogo não é apenas o preço da sua próxima encomenda, mas um modelo de desenvolvimento para o país e o futuro de milhões de trabalhadores brasileiros.
Fonte: Jornal Contábil
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